fevereiro 26, 2018

Composição da Alexandra


     Hoje em dia, os jovens têm atitudes menos positivas, principalmente durante os anos escolares. A maior parte das pessoas tem grupos com os colegas, mas nesses grupos só estão pessoas com uma melhor qualidade de vida, porque têm roupas de marca, calçado de marca e um bom nível financeiro. Assim, algumas pessoas que não conseguem ter estes padrões são excluídas, ficam de fora desses grupos e têm de andar sozinhas durante os intervalos.
       A geração de hoje em dia devia ser mais unida e ter mais contacto com essas pessoas, pois a aparência não define ninguém. Se alguém começasse por mudar estas atitudes, se calhar a juventude mudava os comportamentos, porque ser excluído de grupos é “ triste” e as pessoas que fazem isso também não gostavam de passar por tal…
       Na escola, as funcionárias, os professores ou mesmo alunos, deviam falar com os diretores de turma para conversarem com os que têm essas atitudes a fim de lhes dar umas lições de vida para pararem de ser estúpidos para com as pessoas que não têm as mesmas hipóteses financeiras, pois o mais importante são os valores e não o estatuto social.

Alexandra Matos, 9ºC, Nº2




fevereiro 22, 2018

Análise do Consílio dos deuses




Início da narração (estância 19): «in medias res», à semelhança das epopeias greco-latinas.

. A ação de Os Lusíadas não é narrada cronologicamente. De facto, o poeta inicia a narração quando a viagem de Vasco da Gama à Índia se situa já no Oceano Índico, perto da costa de Moçambique.
   Esta técnica narrativa, um traço das antigas epopeias, designa-se «in medias res», ou seja, a narração é iniciada a meio dos acontecimentos.

. O início da viagem e os acontecimentos que ocorreram até ao ponto em que a narração é iniciada na estância 19 serão contados posteriormente, num recuo temporal (analepse), pelo próprio Vasco da Gama.

. Espaço:
‑ Oceano Índico;
‑ «largo» (espaço marítimo vasto);
‑ ondas «inquietas» (ondulação ligeira ‑ personificação);
‑ os ventos brandos, tranquilos, serenos (personificação: «respiravam» ‑ v. 3);
‑ as velas «inchadas» pelo vento, fazendo movimentar as naus, que vão cortando as ondas;
‑ a espuma branca (causada pela ondulação e pela deslocação das naus).
Em suma, a viagem dos Portugueses decorre num ambiente calmo, tranquilo, sereno, com os ventos a «empurrarem» as naus.

. Plano estrutural: viagem.

. Há uma estreita ligação entre esta estância e a seguinte (20), expressa pelo advérbio «já» e pela conjunção subordinativa temporal «quando», os primeiros vocábulos de cada estância ‑ aquele correspondente à oração subordinante e este à subordinada adverbial temporal ‑, a marcarem a simultaneidade dos dois acontecimentos – a viagem e o consílio. Note-se que a frase iniciada na estância 19 só termina no verso 4 da estância 20.

. Uso do pretérito imperfeito e do gerúndio: o decurso e a continuidade da viagem.



. 1.ª parte (est. 20-23) ‑ Introdução – Início do consílio: convocação dos deuses por Júpiter, sua viagem e chegada.

. Plano: mitologia (o consílio dos deuses).

. Local de realização do consílio: Olimpo (cadeia de montanhas situada entre a Macedónia e a Tessália que era considerada a morada dos deuses).

. Convocatória e presidência: Júpiter.

. Mensageiro: Mercúrio, o mensageiro dos deuses, leva a mensagem de Júpiter às divindades.

. Objetivo do consílio: decidir se os Portugueses vão ou não chegar à Índia («Sobre as cousas futuras do Oriente» ‑ estância 20, v. 4 – isto é, o futuro do Oriente).

. Participantes: os deuses que governam os Sete Céus, de Norte a Sul e Este a Oeste.

. Retrato dos deuses:
‑ governam / comandam a vida dos homens («Onde o governo está da humana gente» ‑ est. 20, v. 2);
‑ governam os Sete Céus – todo o céu («deixam dos Sete Céus o regimento, / Que do poder mais alto lhe foi dado» ‑ est. 21, vv. 1-2);
‑ provêm de todo o cosmos, dos diferentes pontos cardeais (Norte a Sul, Este a Oeste), mas juntaram-se no Olimpo num instante («Ali se acharam juntos, num momento» ‑ est. 21, v. 5);
‑ governam todo o céu, toda a terra e todo o mar só com o pensamento («Alto poder, que só c’o pensamento / Governa o Céu, a Terra e o Mar irado» ‑ est. 21, vv. 3-4);
‑ são, em suma, omnipotentes e muito poderosos.

. Retrato de Júpiter:
‑ é o Pai dos deuses («Estava o Padre ali» ‑ est. 22, v. 1);
‑ é o presidente do consílio;
‑ é sublime e digno;
‑ é o senhor do raio;
‑ está sentado num trono faiscante de estrelas;
‑ tem um gesto alto, severo e soberano (tripla adjetivação);
‑ «Do rosto respirava um ar divino»;
‑ exala um ar que transformaria um corpo humano num ser divino;
‑ tem um cetro e uma coroa resplandecentes, feitos de uma pedra mais luminosa que o diamante (comparação hiperbólica);
‑ possui um tom de voz «grave e horrendo» (dupla adjetivação), isto é, que impõe respeito e temor;
‑ ocupa um lugar privilegiado, mais elevado (senta-se num lugar mais elevado, superior ao dos demais deuses; repetição do adjetivo «alto»: «poder mais alto», «alto poder», «gesto alto»);
‑ símbolos: os raios de Vulcano, a coroa e o cetro (símbolos de poder).

- poder
- superioridade
- severidade
- distinção
- majestática dignidade

. Chegada e disposição dos deuses no consílio:
‑ Júpiter ocupa o lugar mais elevado;
‑ os restantes deuses eram distribuídos hierarquicamente, por ordem de importância, de acordo com as suas dignidades («Como a Razão e a Ordem concertavam»).

. Nestas estâncias, está presente a luminosidade característica das entidades divinas, visível nos nomes e adjetivos do campo lexical de luz: «estrelas», «cristalino», «rutilante», «clara», «diamante», «luzentes», «ouro», «perlas», etc.

. A intenção de Camões é caracterizar os deuses como seres superiores, respeitados e temidos pelo Homem. De facto, os deuses apresentam-se como seres imponentes no aspeto e nos ambientes que frequentam. Esta imponência concretiza o objetivo do maravilhoso n’Os Lusíadas: uma alegoria de enaltecimento dos feitos portugueses, que, por ação dos deuses olímpicos, atingiram uma grandeza transcendente. A sublime majestade dos deuses olímpicos acaba por se refletir na grandeza e no caráter sublime dos feitos dos Portugueses.


. 2.ª parte (estâncias 24 a 29). Exposição – Início do consílio propriamente dito.

a) Discurso de Júpiter (est. 24 a 29).

. Introdução (est. 24):
‑ Destinatário do discurso: os deuses («Eternos moradores do luzente» ‑ perífrase: o Olimpo).

‑ Caracterização dos Portugueses: «grande valor da forte gente» (est. 24, v. 3).

‑ Profecia dos Fados (decisões a que nem os deuses podem opor-se e contrariar): os Portugueses tornar-se-ão mais famosos do que os povos da Antiguidade – Assírios, Persas, Gregos e Romanos ‑, isto é, os seus feitos farão esquecer os feitos e as glórias desses povos.

‑ A sumária alusão aos Portugueses, ao seu valor e valentia, e a referência à profecia dos Fados permitem antecipar a posição favorável de Júpiter relativamente à empresa lusitana.

. Desenvolvimento (est. 25 a 28): Argumentos de Júpiter:

‑ Os feitos passados dos Portugueses: o valor, a coragem e a força demonstrados na luta e nas grandes vitórias alcançadas contra os Mouros (est. 25, v. 2) durante a Reconquista, contra os Castelhanos para assegurar a independência (est. 25, v. 5) e nas guerras contra os Romanos, capitaneados por Viriato e por Sertório (est. 26), general romano («peregrino» = estrangeiro) que se uniu aos lusitanos contra o seu próprio povo após a morte de Viriato e que fingia ter por conselheira uma corça que o acompanhava e que teria poderes de adivinhação. Todos estes sucessos foram obtidos em inferioridade numérica e desproporção de forças («Cum poder tão singelo e tão pequeno, / Tomar ao Mouro forte e guarnecido» ‑ antítese – est. 25, vv. 2-3), apenas com a ajuda divina («favor do Céu sereno» ‑ est. 25, v. 6).

‑ Os feitos do presente (advérbio de tempo «agora»):
. a coragem e a ousadia de navegar por mares incertos («duvidoso mar» ‑ est. 27, v. 2) desconhecidos («Por vias nunca usadas» ‑ est. 27, v. 3), em frágeis embarcações («num lenho leve» ‑ metonímia ‑ est. 27, v. 2), sem temer a força dos ventos («não temendo / De Áfrico e Noto a força» ‑ est. 27, v. 4)
. a persistência dos Portugueses, apesar do tempo de viagem já decorrido («Que, havendo tanto já que as partes vendo / Onde o dia é comprido e onde breve» ‑ est. 27, vv. 5-6), do cansaço («A gente vem perdida e trabalhada» ‑ est. 28, v. 6) e do sofrimento e das dificuldades e perigos enfrentados durante a viagem («duro inverno», «ásperos perigos», «climas e céus experimentados», «furor de ventos inimigos» ‑ est. 28 e 29).

‑ Os feitos do futuro – profecia: o Fado já havia determinado que detivessem, por longo tempo, o domínio do Oriente («Prometido lhe está do Fado eterno, / Cuja alta lei não pode ser quebrada, / Que tenham longos tempos o governo / Do mar que vê do Sol a roxa entrada.» ‑ est. 28, vv. 1-4) e nada nem ninguém o pode contrariar («Cuja alta lei não pode ser quebrada» ‑ est. 28, v. 2).

. Conclusão ‑ Decisão de Júpiter: por estes motivos e como prémio de terem já vencido tantos perigos e de «tanto furor de ventos inimigos», Júpiter determina que os marinheiros lusos sejam «agasalhados» na costa africana, para seguirem o seu caminho até à Índia, isto é, que os Portugueses sejam recebidos como amigos e ajudados na costa africana, no restabelecimento das forças e das naus, para que a viagem possa prosseguir (estância 29).


. 3.ª parte (est. 30 a 40) – Conflito: reação dos deuses ao discurso de Júpiter.

1) Divisão de opiniões entre os deuses: uns opõem-se à atitude favorável de Júpiter, outros defendem a posição do pai dos deuses (4 versos iniciais da est. 30). A forma como os deuses se envolvem na discussão revela a importância que atribuem ao assunto, isto é, o sucesso ou insucesso da empresa dos Portugueses, o que lhes confere um estatuto especial.

2) Posição de Baco (2.ª metade da estância 30 à estância 32): oposição à decisão de Júpiter, isto é, à empresa dos Portugueses.

a) Argumentos de Baco (em discurso direto):
‑ o receio de que os seus feitos no Oriente sejam esquecidos caso os Portugueses aí cheguem (est. 30, vv. 5-8);
‑ o receio de que a chegada dos Portugueses («gente fortíssima de Espanha» ‑ est. 31, v. 2) e as suas «novas vitórias» (est. 31, v. 5) façam desaparecer o seu renome, a sua glória e a sua fama, conforme profecia dos Fados (estância 31);
‑ o deus dominou a Índia («já teve o Indo sojugado» ‑ metonímia – est. 32, v. 1) e foi, por isso, cantado pelos poetas, os que «bebem a água de Parnaso» (est. 32, v. 4); com a chegada dos Portugueses, receia que o seu nome glorioso, cantado pelos poetas, caia no esquecimento (metáforas dos versos 5 a 7 da estância 32).

b) Simbolismo de Baco:
‑ as dificuldades e obstáculos enfrentados pelos Portugueses durante a sua navegação;
‑ os interesses prejudicados de mouros e outros indígenas e mesmo de Portugueses cuja posição social poderia ser afetada.

3) Posição de Vénus (est. 33 e 1.ª parte da est. 34): Defesa e apoio à viagem dos Portugueses.

a) Razões de Vénus:
1) a simpatia que sente pelos Portugueses («Afeiçoada à gente Lusitana» ‑ perífrase – est. 33, v. 2) porque são um povo semelhante ao seu amado povo romano (descendente de Eneias, seu filho, nascido em Tróia, que seguiu para Itália, depois da destruição daquela cidade pelos Gregos e, segundo Virgílio, foi o progenitor dos Romanos), proximidade essa visível em aspetos como:
i) a grande valentia e fortuna («Nos fortes corações, na grande estrela» ‑ est. 33, v. 5) mostradas na guerra no Norte de África («terra Tingitana» ‑ est. 33, v. 6);
ii) as semelhanças a nível da língua (entre o português e o latim) – est. 33, vv. 7-8;
‑ a certeza de que o seu nome e o culto do Amor, que ela simboliza, serão sempre celebrados, no Oriente, em todos os lugares onde os Portugueses chegarem (est. 34, vv. 1-4).

b) Vénus simboliza a civilização ocidental e o seu desejo de expansão no Oriente.

c) Esta disputa entre Baco e Vénus significa um conflito de interesses: de um lado, a inveja, o despeito, o receio de perda de influência; do outro, a simpatia e o desejo de glória. Ou seja, os deuses evidenciam, na sua discussão acalorada, sentimentos bem humanos.

4) Ponto da situação do consílio (2.ª parte da est. 34 e est. 35):
a) Baco teme a infâmia resultante da perda de influência no Oriente;
b) Vénus ambiciona as honras e a glória que os portugueses lhe poderão proporcionar;
c) A divisão dos deuses no apoio às duas partes gera um tumulto comparável a uma tempestade gigantesca na floresta e nas montanhas (além da comparação, destaque para as aliterações em «r», «f», «t», sugerindo o ruído da tempestade; para a adjetivação, para as sensações visuais e auditivas, para a hipérbole, todos estes recursos sugerindo a sua violência).

5) Posição de Marte (est. 36 a 40): toma o partido de Vénus e dos Portugueses.

a) Razões o apoio de Marte:
‑ o «amor antigo» que nutria por Vénus, também ela defensora da causa lusitana («ou porque o amor antigo o obrigava» ‑ est. 36, v. 3);
‑ o merecimento da «gente forte» (est. 36, v. 4).

b) Descrição de Marte: a força, a majestade e imponência, características evidenciadas pelo seu aspeto, pelas atitudes e pelo efeito que aquelas têm na natureza e nos próprios deuses:
‑ a adjetivação expressiva, dupla e tripla por vezes: «merencório», «medonho e irado», «armado, forte e duro», «penetrante», etc.;
‑ a armadura de guerreiro e os símbolos: o escudo, o elmo com viseira de diamante, o bastão;
‑ as suas atitudes de firmeza, determinação e revolta, de um guerreiro forte (atentar na adjetivação expressiva):
- levanta-se diante dos deuses (para se destacar, ser visto, avançar em direção a Júpiter);
- atira o escudo para trás, «medonho» e «irado» (para poder falar melhor);
- levanta a viseira do elmo «mui seguro» (para poder ver melhor);
- coloca-se diante de Júpiter, «armado», «forte» e «duro» (para mostrar que não o teme);
- dá uma pancada tão violenta com o bastão que Apolo perde um pouco a cor (para chamar a atenção) [«O Céu tremeu, e Apolo, de turvado, / Um pouco a luz tremeu, como infiado;» ‑ hipérbole: realça a violência e a fúria da pancada do bastão de Marte no chão sagrado do Olimpo, a tal ponto que o próprio Céu tremeu e o Sol (ambos personificados) até perdeu a luz].

c) Argumentos de Marte (em discurso direto):
‑ o mérito e a bravura dos portugueses, gente guerreira (Marte é o deus da guerra), reconhecidos pelo próprio Júpiter no seu discurso [«esta gente (…) / Cuja valia e obras tanto amaste» ‑ est. 38, vv. 3-4];
‑ a inveja e a falsidade das razões apresentadas por Baco [«Não ouças mais (…) / Razões de quem parece que é suspeito» ‑ est. 38, vv. 7-8; estância 39];
‑ é sinal de fraqueza voltar atrás numa decisão tomada («Da determinação que tens tomada / Não tornes por detrás, pois é fraqueza / Desistir-se da cousa começada» ‑ est. 40, vv. 2-4).

d) Conclusão: Marte solicita a Júpiter que dê cumprimento à sua determinação de ajudar os Portugueses, ordenando a Mercúrio, o mensageiro, que indique aos nautas lusos a terra onde podem colher informações sobre a Índia e restabelecer-se da viagem, retemperando forças.

                Observe-se como Camões faz surgir Marte diante de Júpiter, com uma força e autoridade quase iguais à do pai dos deuses. Tal sucede não apenas por se tratar do deus da guerra. De facto, a intenção do poeta era apresentar Marte como o símbolo da força, da coragem, da vitória, um símbolo da força dos Portugueses (povo «que a Marte tanto ajuda»), do seu amor à luta, das suas vitórias passadas e futuras. Note-se, por outro lado, que, após o seu discurso, favorável aos Portugueses, nenhum deus se atreveu a contrariá-lo e o próprio Júpiter consentiu no que o deus da guerra disse.


. 4.ª parte (est. 41) – Desenlace:
‑ Júpiter assente no que Marte disse («Como isto disse, o Padre poderoso, / A cabeça inclinando, consentiu / No que disse Mavorte valeroso» ‑ est. 41, vv. 1-3);
‑ Júpiter encerra o consílio e os deuses regressam aos seus domínios.




. Narrador

                O narrador do episódio é Camões, um narrador heterodiegético, pois narra na terceira pessoa uma história em que não tomou parte, da qual não foi personagem.


. Glorificação dos Portugueses no episódio

                Este episódio glorifica e engrandece os feitos dos Portugueses, desde logo porque o próprio Júpiter elogia a coragem e a ousadia do povo luso.
                Por outro lado, a referência às descobertas e aos sofrimentos e dificuldades enfrentados engrandece também os Portugueses, tendo em conta o facto de o consílio se realizar unicamente para tomar uma decisão sobre o apoio a dar aos navegadores que procuram chegar à Índia.
                Os próprios receios e oposição de Baco engrandecem o feito, já que uns simples humanos conseguem provocar o temor e a inveja de um deus.